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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Proteger sementes



Mal se abriu a porta da rua, a manhã de domingo recebeu-nos gélida, e nem o sol, com a sua luz ofuscante, naquela imensidão azul, conseguia atenuar o efeito agressivo do frio. Mas o passeio que nos esperava seria muito agradável, através de uma estrada sinuosa, que bem conhecemos e da qual nunca nos cansamos, de paisagem variada, por montes e vales, com a Serra de Aire sempre ao fundo, a guiar-nos.
Esperava-nos, na Quinta do Vale Pequeno, na aldeia da Lamarosa, perto de Torres Novas, uma actividade aliciante. Além de uma visita guiada pelo campo, onde as plantas crescem harmoniosamente, em modo de produção biológico, participámos numa Oficina destinada a demonstrar como se recolhem e conservam as sementes.
A Acção, muito prática, foi dinamizada por Graça Ribeiro e José Miguel Fonseca. Estes especialistas dedicam-se há longo tempo à recolha e preservação de espécies tradicionais, tendo criado a Associação “Colher para Semear”. Esta tarefa apaixonante e delicada reveste-se de uma importância incalculável, tendo em conta que hoje em dia, se torna cada vez mais difícil encontrar sementes que não sejam híbridas ou, pior ainda, trangénicas, o que torna todos aqueles que se preocupam em colher e preservar as sementes mais puras, em verdadeiros guardiões de um legado precioso deixado pelos nossos ancestrais, ao qual raramente se atribui o seu real valor.
Do “Manual Prático para a Colheita e Conservação de Sementes”, publicado pela “Colher para Semear”, da autoria de José Miguel Fonseca, retirei algumas palavras, bem elucidativas, que traduzem uma sensibilização e um forte apelo a todos quantos se preocupam com a defesa do ambiente e com o desenvolvimento sustentável do nosso tão maltratado planeta.
“ O percurso da semente é anterior ao nascimento do ser humano. Alguma vez colocou uma semente na sua mão e olhando para ela ponderou como chegou até si? No seu percurso, desde tempos imemoriais, a semente passou por fases difíceis, que incluem as intempéries que conseguiu superar, o trabalho de selecção natural a que foi sujeita, em constante evolução até aos nossos dias. Tudo isto não seria possível sem o carinho e paciência dos nossos antepassados que delas cuidaram para as trazer até nós. A observação atenta de características, como a rusticidade, a adaptação ao calor ou ao frio, à seca ou ao alagamento, entre outras, foram tidas em conta por estes autênticos guardiões, que criaram um elo de ligação, desde os primeiros agricultores, hoje em grave risco de se quebrar.
Esse percurso não deve terminar, temos de nos unir em torno da protecção da semente, neste momento difícil que atravessa. Ela está em apuros e só com a nossa ajuda poderá retomar, esperemos que num futuro próximo, a sua importante viagem. Fazemos, portanto, um apelo a todos os amantes da preservação de sementes, agricultores, colectores, consumidores, que, por necessidade ou paixão, se têm mantido fiéis às suas tão estimadas variedades, que venham em defesa deste património que se encontra ameaçado.”
Para os interessados em saber mais sobre esta Associação “Colher para Semear”, aqui ficam os contactos:

Quinta do Olival – Aguda 3260-044 Figueiró dos Vinhos
Telefone: 236 62 22 18334
Telemóvel: 914 909
colherparasemear@gmail.com