Quem somos

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Jardim

Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
Sequências de convergências e divergências,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.

Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.

Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A piscina


O calor já anda por aí! E para refrescar, nada melhor que uns banhos na piscina. A nossa é  de água salgada. Depois do banho podemos descansar à sombra e repousar os olhos numa paisagem magnífica - uma encosta que ao longo do dia vai tomando diversas tonalidades.





terça-feira, 5 de abril de 2011

Bom sol! As sebes de encosto
Dão madressilvas cheirosas
Que entontecem como um mosto.
Floridas, às espinhosas
Subiu-lhes o sangue ao rosto.

Cresce o relevo dos montes,
Como seios ofegantes;
Murmuram como umas fontes
Os rios que dias antes
Bramiam galgando pontes.

E os campos, milhas e milhas,
Com povos de espaço a espaço,
Fazem-se às mil maravilhas;
Dir-se-ia o mar de sargaço
Glauco, ondulante, com ilhas!

Pois bem. O Inverno deixou-nos.
É certo. E os grãos e as sementes
Que ficam doutros Outonos
Acordam hoje frementes
Depois duns poucos de sonos.

Cesário Verde

sábado, 2 de abril de 2011

Flores



Com as flores tenho aqui a Natureza
ao alcance das mãos, dentro de casa.
Olhando-as se desdobram os planos do horizonte,
multiplicam-se as flores,
sucedem-se os vergéis, as sendas entre muros,
os prados, os recantos, as sebes, os riachos,
as árvores, os penedos, os cumes, as encostas.
Tudo é alegre e verde, amarelo e vermelho,
cobrindo de alcatifas os socalcos das serras.


António Gedeão, Poema da Flor no seu vaso